Córtex Cerebral

Córtex Cerebral

quarta-feira, 29 de junho de 2011

ESTRUTURA E FUNÇÕES DO CÓRTEX CEREBRAL- Parte IV

6.2- Áreas de associação terciárias
v  Segundo Luria:
ü  Ocupam o topo da hierarquia funcional no córtex cerebral.
ü  Não se relacionam isoladamente com nenhuma modalidade sensorial, ou seja são supramodais.
ü  Recebem e integram informações já elaboradas de todas as áreas secundárias.
ü  Responsáveis pela elaboração de diversas estratégias de comportamento.
ü  Compreendem as áreas pré-frontal, área temporoparietal e áreas límbicas.

6.2.1 Área pré-frontal
ü  É a parte anterior não-motora do lobo frontal.
ü  Bastante desenvolvida nos mamíferos
ü  Ocupa ¼ da superfície do córtex cerebral.
ü  Recebe fibras de associação de todas as áreas de associação do córtex e liga-se ao sistema límbico através de fascículos de associação do córtex.
ü  Conexões dessa área com o núcleo dorsomedial do tálamo- especialmente importantes.
ü  Realizações de experimentos em homem e em animais a respeito do significado funcional dessa área levou a acreditar que esta poderia estar relacionada com algum tipo de memória para fatos recentes.
ü  Lobotomia [ leucotomia] pré-frontal: prática operatória realizada por Egas Moniz e Almeida Lima em 1936 que consiste numa secção bilateral da parte anterior dos lobos frontais passando adiante dos cornos anteriores dos ventrículos laterais. Essa técnica era usada em pacientes com depressão, ansiedade e no estado de tampanamento psíquico, ou seja, em pessoas que deixam de reagir a circunstâncias de alegria e de tristeza.vídeo de lobotomia
ü  A lobotomia pré- frontal foi largamente usada na época, mas caiu em desuso devido a conseqüência indesejada dessa técnica: Pacientes perdem a capacidade de discernir sobre que comportamento é adequado para determinada situação. Além disso houve substituição da técnica por surgimento de anti depressivos.
v  Funções da área pré- frontal:
·         Capacidade de escolha ou de alteração de  opções e estratégias comportamentais adequadas a determinada situação.
·         Manutenção da concentração.
·         Capacidade de seguir a uma determinada seqüência ordenada de pensamentos.
·         Controle do comportamento emocional [ função realizada junto como hipocampo e com o sistema límbico]

6.2.2- Área temporoparietal:
Ø  Compreende o lóbulo parietal inferior, ou seja, os giros supramarginais, estendendo-se às margens do sulco parietal superior.
Ø  Funciona como centro que integra informações recebidas das áreas secundárias visual, auditiva e somestésica pois situa-se entre elas.
Ø  “Área do esquema corporal”- é assim chamada devido a permitir ao indivíduo a criação de uma imagem das partes do próprio corpo. Além disso é uma área de percepção espacial, ou seja permite o indivíduo determinar uma relação entre os objetos no espaço extrapessoal.
v  Lesões na área temporoparietal:
·         Desorientação espacial generalizada.
·         Síndrome da negligência ou síndrome da inatenção:
-Se manifesta nas lesões do lado direito do hemisfério cerebral o qual está relacionado com os processos visuo-espaciais;
-Quadro de negligência em relação a parte esquerda do próprio corpo e/ou em relação ao espaço extrapessoal.

6.2.3- Áreas límbicas
ü  Compreendem o giro do cíngulo, o giro para-hipocampal e o hipocampo.
ü  Relacionadas com a memória e o comportamento emocianal.
ü  Intergram o sistema límbico.

7.0- Áreas relacionadas com a linguagem
ü  Compreendem as áreas corticais e não corticais.
ü  As áreas corticais são as mais importantes.
ü  Segundo Geschwind, existe duas áreas corticais para a linguagem: área anterior da linguagem e área posterior da linguagem [ ambas são áreas de associação].
·         Área anterior da linguagem:
-Corresponde a área de Broca;
-Relaciona-se com a expressão da linguagem;
·         Área posterior da linguagem:
-Corresponde a área de Wernicke
-Situa-se na junção entre os lóbulos parietal e o temporal e corresponde a área mais posterior da área 22 do Brodmann.
-Relaciona-se com a percepção da linguagem.
ü  Fascículo longitudinal superior ou fascículo arqueado: serve como “ponte” através da qual as informações da correta expressão da linguagem passam da área de Broca para a área de Wernicke.
v  Lesões nas áreas da linguagem:
·         Causam distúrbios na linguagem -> afasias
·         As afasias são atribuídas a lesão das áreas corticais de associação responsáveis pela linguagem e não são atribuídas a lesões nas vias sensitivas ou motoras da fonação.
Existem 2 tipos de afasia:
·         Afasia motora ou de expressão:
-Lesão da área de Broca
-Compreensão da linguagem falada ou escrita, porém dificuldade de expressão na fala ou na escrita.

·         Afasia sensitiva ou de percepção:
-Lesão da área de Wernicke
-Deficiência na compreensão da linguagem falada ou escrita e na expressão da linguagem.
*Afasia de condução: Lesão no fascículo arqueado que causa a deficiência de expressão porém a compreensão da linguagem é normal. Essa afasia é rara.
OBS: Na maioria dos idivíduos as áreas corticais da linguagem localizam-se no lado esquerdo.

8.0-Assimetria das funções corticais
Ø  Hemisfério cerebral direito não é simétrico ao esquerdo.
Ø  As áreas da linguagem estão localizadas apenas no lado esquerdo, na maioria das pessoas.
Ø  Hemisfério dominante:  Hemisfério esquerdo.
Ø  O hemisfério direito tem papel secundário em relação a linguagem.


Ø  Importância do hemisfério esquerdo: linguagem e raciocínio matemático
Ø  Importância do hemisfério direito: algumas habilidades artísticas, percepção de relações espaciais e reconhecimento de fisionomias pessoais.
Ø  A assimetria funcional dos hemisférios cerebrais somente ocorre nas áreas de associação do córtex, pois as áreas de projeção tanto sensitivas como motoras são iguais.

Curiosidades:
Ø  Em 96% de indivíduos destros o hemisfério dominante é o esquerdo.
Ø  Em 70% de indivíduos canhotos ou ambidestros o hemisfério dominante é o esquerdo.
Logo no canhoto, é mais difícil localizar o lado do centros da linguagem.
Importância clinica:
Um neurocirurgião para saber o lado dos centros da linguagem de um paciente injeta uma droga [ amital sódico] através das carótidas do mesmo e pede para ele contar em voz alta. A droga é levada preferencialmente para o hemisfério de mesmo lado. Se as áreas da linguagem situarem-se no mesmo lado que foi injetado a droga o paciente para de contar pois a mesma causa nelas uma breve disfunção.
ü  A assimetria funcional das áreas da linguagem se deve a região do lobo temporal onde se encontra a área de Wernicke ser maior [na maioria das pessoas] na esquerda do que na direita.
ü  A assimetria funcional das áreas da linguagem confirma a importância do corpo caloso, o qual transmite informações do centros da linguagem entre os hemisférios direito e esquerdo.







ESTRUTURA E FUNÇÕES DO CÓRTEX CEREBRAL- Parte III

6. Áreas de Associação do Córtex

ü  Estão relacionadas com as funções psíquicas complexas;
ü  Não se relacionam diretamente com a motricidade ou sensibilidade;
ü  Ocupam no homem um território cortical muito maior que o das áreas de projeção;
De acordo com a divisão proposta por Alexandre Luria, as áreas de associação podem ser divididas em secundárias (unimodais) e terciárias (supramodais).

6.1. Áreas de Associação Secundária

Estão justapostas às áreas motoras primárias correspondentes e são unimodais, podendo ser de dois tipos: Sensitivas ou motoras.

6.1.1. Áreas de Associação Secundárias Sensitivas

São conhecidas três áreas:
1.      Área Somestésica Secundária: localiza-se no lóbulo parietal superior, atrás da área somestésica primária, corresponde às áreas 5 e parte da área 7 de Broadman.
2.      Área Visual Secundária: No lobo occipital situa-se adiante a área visual primária, corresponde às áreas 18 e 19 de Broadman. No lobo temporal - ocupa as áreas 20, 21 e 37 de Broadman.
3.      Área Auditiva Secundária: No lobo temporal - circundando a área auditiva primária, corresponde a área 22 de Broadman.
As áreas secundárias recebem aferências das áreas primárias e repassam as informações recebidas às outras áreas do córtex, em especial as supramodais. 
.
A identificação de um objeto se faz em duas etapas:
a)      Etapa da sensação - toma-se consciências das características sensoriais do objeto, e faz-se em uma área sensitiva de projeção, ou área primária.
b)      Etapa da interpretação ou gnosia – as características sensoriais são comparadas com o conceito do objeto existente na memória do indivíduo, permitindo sua identificação. Envolve processos psíquicos complexos e depende das áreas de associação secundárias.
            A existência de duas áreas diferentes envolvidas na identificação de objetos torna possível que elas sejam lesadas separadamente.
Em lesões das áreas secundárias ocorrem casos clínicos denominados agnosias, nos quais há perda da capacidade de reconhecer objetos, mesmo as vias sensitivas e áreas de projeção cortical estando normais.
As áreas sensitivas secundárias do ponto de vista funcional não simétricas, então a sintomatologia em casos de lesões é diferente, dependendo do lado da lesão.
Ex:
Lesão da área auditiva secundária no hemisfério esquerdo: Afasia
Lesão da área auditiva secundária no hemisfério direito: Amusia

6.1.2. Áreas de Associação Secundárias Motoras

Localizam-se adjacentes às áreas motoras primárias com as quais se relacionam. Lesões dessas áreas podem causar apraxias, que é um quadro clínico caracterizado pela incapacidade de realizar determinados atos voluntários, sem que exista déficit motor. Neste caso, a lesão ocorreu nas áreas corticais de associação relacionadas com o planejamento dos atos voluntários.
São áreas motoras secundárias:
1-      Área Motora Suplementar: situada na face medial do giro frontal superior, ocupa a parte mais alta da área 6 de Broadman. Funcionalmente relaciona-se com a concepção ou planejamento de sequências complexas de movimentos. Faz conexões com o corpo estriado, via tálamo e com a área motora primária correspondente.
2-      Área Pré-Motora: localiza-se no lobo frontal e ocupa toda a extensão da área 6  na face lateral de cada hemisfério. É menos excitável que a área motora primária. Envolve grupos musculares maiores, como os do tronco ou da base dos membros. Lesões dessa área, esses músculos têm sua força diminuída (paresia), o que impede o paciente de elevar completamente o braço ou a perna.
Tem algumas características de uma área primária, em que coloca o corpo e os membros em uma postura básica preparatória para a realização de movimentos delicados.
3-      Área de Broca: localiza-se nas partes opercular e triangular do giro frontal inferior, nas áreas 44 e parte da área 45 de Broadman, em frente a parte da área motora que controla os músculos relacionados com a vocalização.  Responsável pela programação da atividade motora relacionada com a expressão da linguagem, então sua lesão resulta em déficit de linguagem (afasias).

ESTRUTURA E FUNÇÕES DO CÓRTEX CEREBRAL- Parte II

4.0- Classificação das Áreas Corticais
       O córtex cerebral não é homogêneo em sua extensão, o que permite a individualização de várias áreas com base em critérios.

4.1- Classificação Anatômica do Córtex
        Baseada na divisão do cérebro em sulcos, giros e lobos. A fragmentação em lobos não corresponde a uma divisão funcional ou estrutural. Com exceção do lobo occipital que é considerada uma das principais áreas corticais da visão.

4.2- Classificação Filogenética do Córtex
Divide o córtex com base em critérios evolutivos:
·         Arquicórtex: corresponde ao hipocampo;
·         Paleocórtex: úncus e parte do giro para-hipocampal;
·         Neocórtex: reveste todo o resto dos hemisférios cerebrais.
Arqui e paleocórtex ocupam áreas antigas do córtex e fazem parte do riencéfalo (olfação) e do sistema límbico (comportamento emocional).

4.3- Classificação Estrutural do Córtex
       Com base em estudos histológicos das camadas do córtex, ele pode ser dividido em várias áreas citoarquiteturais. O mapa desta divisão mais aceito é o de Brodmann, com 52 áreas enumeradas.


4.4- Classificação Funcional do Córtex
      Com relação às funções, as áreas corticais não são homogêneas.
·         Broca: correlacionou lesões em áreas restritas do lobo frontal (área de Broca) com a perda da linguagem falada.
·         Fritsch e Hitzig: estabeleceram o conceito de somatotopia (correspondência entre determinadas áreas corticais e certas partes do corpo- 1º mapeamento da área motora do córtex).
      Descobriu-se também que é possível causar movimento a partir de estímulos de áreas corticais consideradas exclusivamente sensitivas. Verificou-se assim que as localizações funcionais são especializações funcionais das áreas corticais, mas também que elas não são isoladas. O conceito de localizações funcionais no córtex é aceito, pois é importante para compreensão do funcionamento e para o diagnóstico de lesões no cérebro.
      As áreas funcionais se classificam em áreas de projeção e áreas de associação, ambos têm conexões com os centros subcorticais. Segundo o neuropsicólogo Luria:
·         Áreas de projeção   >    áreas primárias - ligadas diretamente à sensibilidade e à motricidade.
·         Áreas de associação    >  áreas secundárias ou unimodais – relacionadas indiretamente com a sensibilidade e a motricidade. Suas conexões ocorrem com uma área primária de mesma função.
áreas terciárias ou supromodais – envolvidas com atividades psíquicas superiores (memória, processos simbólicos e pensamento abstrato). Mantêm conexões com áreas unimodais e com outras supramodais.
5.0- Áreas de projeção (áreas primárias)
      Relacionam-se com a sensibilidade ou com a motricidade. Existe apenas uma área primária motora situada no lobo frontal e várias áreas primárias sensitivas nos demais lobos. Existe uma área primária específica para cada sensibilidade especial, enquanto todas as formas de sensibilidade geral convergem para a área somestésica.

5.1-Área Somestésica (área da sensibilidade geral somática)
ü  Localizada no giro pós-central (áreas 3, 2 e 1 do mapa de Brodmann)
ü  Chegam radiações talâmicas originadas nos núcleos ventral póstero-lateral e ventral póstero-medial
ü  Trazem impulsos nervosos relacionados á temperatura, dor, pressão e propriocepção consciente do lado oposto do corpo.
ü  Há correspondência entre partes do corpo e partes da área somestésica.
Ø  Homúnculo sensitivo
·         Essa somatotopia é fundamentalmente igual a observada na área motora.
·         A extensão da representação cortical de uma parte do corpo depende da importância funcional dessa parte para a biologia da espécie e não de seu tamanho.
v  Lesões da área somestésica:
       Acidentes vasculares cerebrais podem comprometer as artérias cerebrais média e anterior que irrigam essa região. Causando assim, perda da capacidade de discriminar dois pontos, perceber movimentos de partes do corpo ou reconhecer diferentes intensidades de estímulos ( reconhece as diferentes intensidades de estímulos, mas é incapaz de distinguir a parte do corpo que está  sendo estimulada ou os graus de temperatura, peso ou textura do objeto que o estimula- Perda da estereognosia).
      A sensibilidade protopática (sensibilidade não-discriminativa e sensibilidade térmica e dolorosa) não é alterada, pois se tornam conscientes no tálamo.

5.1.2-Área visual
ü  Localizada nos lábios do sulco calcarino ( área 17 de Brodmann)
ü  Cegam as fibras do tracto geniculo-calcarino originados no corpo geniculado lateral
ü  Correspondência perfeita entre a retina e o córtex visual
v  Lesão da área visual
A abalação bilateral da área 17 causa cegueira completa na espécie humana.

5.1.3- Área Auditiva
ü  Situada no giro temporal transverso anterior ou giro de Heschl (área 41 e 42 de Brodmann).
ü  Chegam fibras da radiação auditiva originadas no corpo geniculado medial.
ü  Tonotopia: sons de determinada freqüência projetam-se em partes específicas da área cortical.
v  Lesões da área auditiva:
·         Lesões bilaterais do giro temporal transverso anterior causam surdez completa.
·         Lesões unilaterais causam déficits auditivos pequenos (suas fibras não são totalmente cruzadas, cada cóclea representa-se no córtex dos dois hemisférios)
5.1.4- Área vestibular
ü  Localizada no lobo parietal em uma pequena região próxima ao território da área somestésica correspondente á face.
ü  Relaciona-se mais com a área de projeção da sensibilidade proprioceptiva do que com a auditiva.
ü  Receptores: proprioceptores especiais- informam sobre a posição e o movimento da cabeça.
ü  Importante para a apreciação consciente da orientação no espaço.
5.1.5- Área Olfatória
ü  Ao contrário de alguns mamíferos, essa área ocupa uma pequena região situada na parte anterior do úncus e do giro para-hipocampal.
ü  Crises uncinadas: epilepsia local do úncus causa alucinações olfatórias.
5.1.6- Área Gustativa
ü  Localizada na porção inferior do giro pós-central, próxima a ínsula, em uma região adjacente à parte da área somestésica correspondente à língua.
ü  Estimulações elétricas ou crises epiléticas cujo foco se inicia nessa região causam alucinações gustativas.
v  Lesões desta área provocam uma diminuição da gustação na metade oposta da língua.


5.2. Área Motora Primária

Ocupa a parte posterior do giro pré-central correspondente á área 4 de Brodmam. É um isocórtex heterotípico agranular caracterizado pela presença de células piramidais gigantes.
O mapeamento do córtex, sua somatotopia, foi possível com o auxilio de dois métodos:
ü  Estimulaçaõ elétrica - determinam movimentos da musculatura contralateral.
ü  Focos epilépticos - causam movimentos de grupos musculares isolados.

·                    Sua somatotopia é representada por um homúnculo de cabeça pra baixo.
A extensão da representação cortical de uma parte do corpo na área 4, é proporcional não ao seu tamanho, mas à delicadeza dos movimentos realizados pelos grupos musculares aí localizados.
Principais Conexões Aferentes:
ü  Tálamo (informações oriundas do cerebelo);
ü  Área somestésica;
ü  Áreas pré-motora;
ü  Motora suplementar.
A área 4 dá origem á maior parte das fibras dos tractos cortiço- espinhal e cortiço nuclear, principais responsáveis pela motricidade voluntária.